(FOLHAPRESS) - Policiais civis da Delegacia de Repressão a Entorpecentes do Rio de Janeiro prenderam na manhã desta quinta-feira (29) MC Poze do Rodo, investigado sob suspeita de apologia do crime e de envolvimento com o CV (Comando Vermelho).
A prisão ocorreu no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio.
De acordo com as investigações, o cantor faz shows exclusivamente em áreas dominadas pelo CV, com a presença ostensiva de traficantes armados com armas de grosso calibre, como fuzis, que fazem as vezes de seguranças do artista e do evento.
O advogado de Poze, Fernando Henrique Cardoso, afirmou que "essa é uma narrativa antiga e já debatida" e que irá entrar com pedido de liberdade.
A investigação aponta também que o repertório das músicas faz apologia do tráfico de drogas, do uso ilegal de armas de fogo e incita confrontos armados entre facções rivais.
"Esses eventos são estrategicamente utilizados pela facção para aumentar seus lucros com a venda de entorpecentes, revertendo os recursos para a aquisição de mais drogas, armas de fogo e outros equipamentos necessários à prática de crimes", diz nota da polícia.
Os policiais cumpriram mandado de prisão temporária de 30 dias expedido pela Justiça, após evidências de que os shows realizados pelo artista são financiados pela facção.
Segundo a investigação, um desses shows foi realizado no dia 19 de maio, na Cidade de Deus, com a presença de traficantes armados. O cantor teria cantado várias músicas enaltecendo a facção criminosa, poucas horas antes da morte do policial civil José Antônio Lourenço, integrante da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), em uma operação policial na comunidade.
O agente morto havia sido subsecretário de Ordem Pública do Rio e era diretor jurídico do Sindicato dos Policiais Civis.
"A Polícia Civil reforça que as letras extrapolam os limites constitucionais da liberdade de expressão e artística, configurando crimes graves de apologia do crime e associação para o tráfico de drogas. As investigações continuam para identificar outros envolvidos e os financiadores diretos dos eventos criminosos", diz a nota.
ORUAM CRITICA PRISÃO DE POZE
O rapper Oruam, filho de Marcinho VP, manifestou-se nas redes sociais em defesa do cantor. VP é apontado pela Promotoria como um dos principais chefes do Comando Vermelho e está preso em presídio federal.
Oruam criticou a ação das autoridades. "O Estado gosta de envergonhar. Algemaram ele sem necessidade. Poze é um exemplo para muitas pessoas. Todo mundo sabe que isso é mentira. Ele é cantor de baile de favela, não tem envolvimento com facção. Isso é uma covardia, é revoltante", disse.
Ele também ironizou a operação. "O Estado quer dar uma resposta para a sociedade e vai lá e prende um MC. Como se, fazendo isso, tivesse acabado com o crime, acabado com o tráfico." Na legenda da postagem, escreveu que "não somos animais pra sermos tratados assim."
Oruam também é investigado pela mesma delegacia que realizou a prisão de Poze, em outro inquérito. Em fevereiro, ele foi conduzido até a Cidade da Polícia devido a um suposto disparo de arma de fogo que o rapper teria feito de forma aleatória em um condomínio no interior de São Paulo no final do ano ado, "colocando em risco a integridade de diversas pessoas", segundo a polícia.
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