SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Condenado a oito anos de prisão com base na Lei do Racismo, Leo Lins se defendeu em uma live no YouTube nesta quinta-feira (5).
Ele usou como base para sua defesa o argumento de que interpreta um personagem no palco. "É uma persona cômica que criei ao longo de dez anos", disse, segurando um cabide com um figurino.
"Aqui é a pessoa Leonardo de Lima Borges Lins, e não o comediante Leo Lins", diz ele na abertura do vídeo, que durou cerca de 12 minutos.
Lins citou o filósofo britânico Simon Critchley, autor de teorias sobre o humor, para dizer que sua interpretação em um show de stand-up equivale ao trabalho de um ator em uma cena de dramaturgia.
"Um humorista no palco interpreta um personagem", diz ele. "Então se eu assistir a um filme de romance posso processar os atores por atentado ao pudor?", comparou.
"Concordar com essa sentença é um atestado de que somos adultos infantilóides sem capacidade de discernir o que é bom ou ruim e que precisamos de um estado falando do que podemos rir, do que podemos falar e até mesmo do que podemos pensar", concluiu.
CONDENAÇÃO
Na última terça-feira (3), Leo Lins foi condenado a oito anos e três meses de prisão pelos crimes do artigo 20 da Lei do Racismo ("praticar e incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional") e do artigo 88 do Estatuto da Pessoa com Deficiência ("discriminação de pessoa em razão de sua deficiência").
Em vídeo de 2022, que teve mais de 3 milhões de visualizações no YouTube, o comediante faz declarações contra negros, idosos, obesos, portadores de HIV, homossexuais, evangélicos, indígenas, nordestinos, judeus e pessoas com deficiência.
Além da prisão, em regime inicialmente fechado, ele também deve pagar uma multa equivalente a 1.170 salários mínimos (no valor da época em que o show ocorreu) e indenização de R$ 303,6 mil por danos morais coletivos. Cabe recurso à sentença.
Na decisão, a Justiça entendeu que "no caso de confronto entre o preceito fundamental de liberdade de expressão e os princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica, devem prevalecer os últimos". O processo corre na 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo.
POLÊMICA
A condenação vem dividindo opiniões de humoristas, atores e demais artistas. Danilo Gentili, Antonio Tabet e Maurício Meirelles defenderam o direito de Leo Lins a fazer a piada que quiser.
Já Pedro Cardoso e a humorista Bruna Braga acreditam que ele deve ser punido pelas declarações discriminatórias. Em publicação nas redes sociais, Pedro Cardoso questionou justamente a afirmação de que o humorista de stand-up seria um personagem.
Segundo ele, no gênero, o comediante pode "prescindir de representar um personagem e falar na sua primeira pessoa, mantendo-se, entretanto, protegido pois tudo seria ficção."